
Desde pequena lembro de refletir sobre muitas coisas.
Quando minhas crises de pânico começaram, lá em 2013 e passei a ler mais sobre o assunto, comecei a lembrar de vários episódios ao longo da vida em que tive sensações muito parecidas com as que tive durante as crises. Nunca me esqueço de uma vez, logo após o falecimento de uma tia, sentir uma sensação de vazio profundo (eu tinha uns 11 anos), de pensar “do que adianta viver se vamos morrer mesmo”? Foi um sentimento de tristeza e impotência enormes. Não dei muita atenção a eles e a vida seguiu.
Em 2008 foi quando tive minha primeira crise de ansiedade, que só fui descobrir que se tratava disso anos depois. Me recordo que machuquei a região do peito na academia e que achei que estivesse infartando. Fui na cardiologista, mal conseguia respirar! Ela me receitou aqueles calmantes naturais à base de passiflora, fui melhorando e pronto.
Em 2012 novamente mais uma crise de ansiedade: dessa vez na cadeira do dentista. Eu tinha compromisso pra ir depois do atendimento, não sei se isso acabou desencadeando, mas tive uma sensação horrível de falta de ar, meu coração super acelerado + pressão alta (combo de sempre quando estava em crise). Achamos que poderia ter sido algo relacionado à anestesia, mas não havia sinal de sangue na agulha e de que a aplicação tivesse sido mal sucedida. O baile seguiu.
2013: que ano! Tudo veio de uma vez (vejam só essa partilha): primeiro descobri uma traição do meu pai (depois meus pais vieram a se separar), começaram as crises de pânico, morre minha coelha Nina, de 5 anos, adoto um cachorro que também desaparece e nunca mais encontro. Não foi fácil. Foram 5 meses tão intensos que pra mim duraram anos. Senti que todas as minhas certezas escoaram pelo ralo. Me senti perdida, sem chão, sem rumo, sem referências. Por dentro, uma dor que não passava. Fiz todos os exames possíveis achando que eu tinha todas as doenças possíveis (antes de descobrir que era a síndrome do pânico). A cada exame cujo resultado era normal, mais desespero. Eu queria uma resposta, eu queria um diagnóstico, um remédio que pudesse tomar pra passar aquela dor que me dilacerava.
E aí, um processo de mudança: foi em agosto de 2013 que decidi começar esse blog, com o projeto de um ano sem compras. Inclusive o nome do blog era outro, ele estava em outra plataforma (o tumblr) e, no decorrer desse projeto muitas outras mudanças foram acontecendo. Daí surgiu o “uma vida mais simples” e com ele as leituras sobre simplicidade voluntária, minimalismo, consumo consciente, viver fora do sistema… Falo que não sou eu que encontra textos/livros/filmes: são eles que me encontram. O universo sempre me traz exatamente aquilo que precisava ler/assistir/refletir. Ficava chocada com todo esse arranjo lá de cima pra que eu pudesse compreender melhor as coisas pelas quais vinha passando e sou muito grata por tudo o que chegou até a mim. Além disso, o universo me presenteou com muitas pessoas maravilhosas, que me ajudaram e me ajudam muito nesse processo de autoconhecimento. O que dizer do meu amigo Elder? Nem tenho palavras para agradecer a sua amizade. Passamos pela síndrome do pânico na mesma época, por esse processo de entender do que isso se tratava… Evoluímos juntos. Conversávamos muito, partilhávamos leituras, reflexões… Ele foi uma grande benção na minha vida e sou muito grata pela sua existência e pela nossa conexão. Poder conversar com alguém que vivia na pele aquilo que eu também vivia, me fazia me sentir acolhida. Não que eu não fosse pela minha família, amigos e namorado. Mas só quem passa por essa dor é que consegue compreender do que se trata.
Nesses 4 anos tantas coisas aconteceram: muita desconstrução, reconstrução, aprendizados, mudanças, alegrias, tristezas…. Tudo isso vivido de uma forma muito nova pra mim. Ao mesmo tempo em que era (e é) dolorido, é diferente. Sinto que faz parte do processo, sinto que são lições que se repetem pois ainda não compreendi o ensinamento que elas precisam me transmitir. Por que não se trata apenas do conhecimento chegar até a mim, mas de eu dar abertura para assimilá-lo.
Ao longo dos meus 29 anos passei por muitas fases: romântica, tranquila, rebelde com e sem causa, impulsiva, depressiva, ansiosa… mas em todas elas extremamente reativa. Já falei sobre reatividade no último post e só há cerca de um mês consegui compreender que eu de fato sou uma pessoa extremamente reativa, que fala antes de pensar e que acaba dizendo coisas diferentes das quais se propôs a falar. E isso eu vejo muito nas minhas relações familiares. Eu e minha mãe somos muito parecidas e aprendemos na física que cargas iguais se repelem, né? Tá aí uma lição da qual eu jamais me esqueço. Sempre tivemos uma relação cheia de atritos, brigas, alterações… São poucas as vezes em que conseguimos sentar e ter uma conversa tranquila. Vejo MUITO de mim na minha mãe. Se não quero ser assim, reativa como ela, brigona, estressada, preciso observa-la e nisso, olhar também pra mim, pois somos muito iguais. Tentar não entrar no mesmo jogo, não responder da mesma maneira. Tenho me policiado imensamente para não colocar ainda mais lenha na fogueira nos momentos em que atritamos. Mas é claro que não só de atrito a gente vive. Temos muitos bons momentos também (minha mãe não é uma carrasca não! Rs… Talvez a forma que esteja descrevendo ela – e a mim mesma – transpareça isso, mas não. Ela é uma excelente pessoa, que tem um temperamento difícil como o meu, é fruto de uma vida bastante dura e sofrida, mas estamos caminhando para nosso aprimoramento).
Como o último mês foi bastante intenso, tive a ideia de anotar em um caderninho todos os insights que vinha tendo, tudo aquilo que de alguma forma me fazia enxergar a minha vida de outro ângulo e que trazia algumas respostas pra questões que sempre me afligiam. São muitas questões sobre as quais quero falar, mas para que esse texto não fique gigantesco, vou aos poucos partilhando com vocês ao longo de uma série de posts.
Nesse texto queria partilhar uma questão que está muito forte em mim e nas minhas reflexões: encontrar o caminho do meio. Como mencionei acima, essa minha rebeldia tem muita relação com a minha forma de ver as coisas: sempre de forma extrema, ou 8 ou 80. Ou é branco, ou é preto, sem nuances. E sei que as coisas não são bem por aí. Nesse meu extremismo já fiz muitas coisas que não eram exatamente o que queria. Já me anulei demais, assim como me impus demais, e em nenhuma dessas circunstâncias fui bem sucedida. Tenho tentado pensar antes de agir, analisar a situação por outros ângulos para só então tomar uma posição ou decisão. Por isso tenho sentido a necessidade de aquietar as coisas aqui dentro de mim, de digerir toda essa informação para depois partilha-la, pois continuo acreditando que o que dividimos, multiplicamos.
Sigo aprendendo e reaprendendo, caindo, levantando, rindo, chorando, tentando exercitar a minha paciência, acalmar o coração e deixar a vida fluir e me mostrar a direção certa a tomar, a escolha certa a fazer. Sou grata por cada um de vocês que visita o blog, que partilha, que me manda e-mail, que me ensina. Somos todos mestres e alunos uns dos outros. Sigamos aprendendo.